Formação de professores de EMRC da Diocese do Porto – 09/09/2023

Comunicar a alegria do Evangelho na Escola e na aula de EMRC

 

D. Manuel Linda, Bispo do Porto, no sábado 9 de setembro, na Casa Diocesana de Vilar, abriu os trabalhos do encontro de professores de Educação Moral e Religiosa Católica.
O encontro principiou com a oração da manhã, evocando as raízes da alegria, a partir das palavras que do Papa Francisco  na JMJ Lisboa 2023.
O Bispo do Porto deu as boas-vindas a todos os professores ao novo ano letivo. Referiu que «as dificuldades não nos devem paralisar, mas devem ser estímulos para atingir os seus objetivos».
D. Manuel Linda disse ainda que «a cultura do ocidente, segundo os grandes pensadores da atualidade, com o contexto da pandemia, da guerra e as grandes decisões já não acontecem no 1.º mundo. A Europa e os EUA começam a não ser a cabeça do mundo». Dentro da Igreja passa-se o mesmo, como se a Europa ainda fosse o centro do cristianismo, dando a ideia que está em fim de linha, gerando angústia e tristeza existencial.
A alegria é missionária, abre-se para o exterior, como diz o Papa Francisco. A alegria tem de se construir, pois «há mais alegria em dar do que em receber». Referiu os voluntariados que são uma forma muita ativa de colaborar no bem comum e entusiasmam os jovens.
D. Manuel Linda apelou à criação de grupos de voluntariado nas aulas de EMRC para entusiasmar os alunos, que estão na idade dos sonhos e que podem ajudar a transformar o mundo. São gotículas de Bem que criam rios do Bem. O professor de EMRC está na escola para ajudar a estruturar a formação humana, da personalidade e da relação com os outros.
Concluiu, dizendo que «gostava que o professor de EMRC fosse uma referência em cada escola e que houvesse compromisso sinodal com todas as estruturas da Igreja». Apelou à participação na vida das paróquias e das comunidades a que estão ligados.
Finda a intervenção, deu a palavra ao professor Carlos Meneses.

O diretor do secretariado, Carlos Meneses, informou que atendendo à necessidade de prover um colaborador no secretariado diocesano da EMRC, o Bispo do Porto nomeou o professor Custódio Veríssimo que trabalhará no secretariado para apoiar os professores de EMRC e a disciplina.

 

Sessão I – Comunicar a alegria do evangelho, entre a timidez e a intrepidez. (*)

A primeira comunicação foi proferida pelo P. Rui Santiago, redentorista, que veio apresentar a sua visão sobre «Comunicar a alegria do evangelho, entre a timidez e a intrepidez».

A partir de histórias e testemunhos pessoais, referiu que a arte de comunicar o evangelho é ter de contar boas notícias às pessoas. O sermão, a prédica o ensinamento, na nossa tradição pós-cristandade estava habituada a ter apenas uma direção, do pregador para o ouvinte. Estas formas são «muitas vezes, desfasados das realidades, porque proferidos por pessoas que estão fora da realidade».

Nestes nossos tempos «surgem novos códigos comunicacionais, novas línguas, na vinculação a uma mundividência da realidade que antes tínhamos. É neste admirável mundo novo em que nos movemos.»

Segundo o P. Rui Santiago, «nós não estamos formados para comunicar, pois comunicar só se faz acompanhado pelo diálogo. Comunicar é colocar a palavra em ponto de comunhão». «Levar a palavra ao lume de comunhão», fazendo uma analogia com mundo culinário.

Relembrando e tendo como referência a liturgia cristã. «comunicar é um além da Palavra. A liturgia da Palavra é o portal do encontro que abre para outra mesa, a da comunhão. A comunicatio começa quando dizemos as palavras de Outro (Jesus). Comunicar implica descer do ambão e recitar a palavra de Outro. Palavra de oração, adoração e obediência. O abraço da paz, a fração do pão.» Comunicar não é um ato de dizer, de falar, mas de dizer-se, falar-se. Comunicar quer dizer comungar.  O testemunho escrito é o anzol – Daniel Faria. A história cristã é uma história de amizade. O Verbo vem conjugar-se connosco em todos os tempos, em todos os modos, com todas as pessoas. Comunicar o evangelho é convidar outros a partilharem a minha vida de fé. Leva para a mesa do abraço, do pão partido.

O grego bíblico fala de duas palavras para exprimir a alegria. A agalliasis, aquela alegria que tenho de partilhar aquilo que estou a viver e a experimentar. Outra é kara, da família de karis. Um dom completo. A alegria de ter sido salvo, solto, desconfinado. Comunicar a alegria do evangelho não é uma técnica, nem assenta nos dons de quem fala, mas no testemunho de quem comunica, concluiu o P. Rui Santiago.

(*) Leia o texto integral aqui.

 

Sessão II – Acreditar e pertencer

Carmo Rodeia, diretora do Gabinete de Comunicação do Santuário de Fátima, fez uma comunicação sobre “Ato, métodos, processos e finalidades da comunicação”. Salientou que «os meios de comunicação social não são adversários da Igreja, eles precisam de ser acolhidos e interpelados por ela. (…) mas «estará o mundo disponível para falar de Deus e preparado para falar de Deus, tendo como modelo Jesus?»

Desafiou os professores de EMRC a «olharem para o espaço público e verem que são poucas as boas notícias e que os cristãos estão pouco motivados para as boas notícias.» Em comunicação não há receitas na forma como comunicamos e quando definimos estratégias de comunicação   têm de ser revistas. A técnica é importante, mas não basta.

A Igreja está no mundo e tem de dialogar com o mundo. Tem de ter capacidade de comunicar e de difundir a sua mensagem que é a pessoa de Jesus. A comunicação é encontro. A memória é seletiva. E a Igreja tem de lidar com esta realidade.

A agenda é criada pelos media, fixam e generalizam as mensagens que se lançam conformam o pensamento. A criação de uma ditadura silenciosa. Diante da progressiva secularização, altera-se a relação entre a fé e a religião.

Carmo Rodeia lançou duas questões pertinentes: Onde está o sentido crítico? Estaremos entre a espada e a parede? Segundo a diretora do Gabinete de Comunicação do Santuário de Fátima, «os professores de EMRC desempenham uma função muito importante, formam o sentido crítico, lançam questões e têm de ajudar a interpelar a realidade.  Os professores de EMRC têm de conhecer o quotidiano em que se movem os adolescentes, os jovens, os mais velhos para descobrirmos os métodos do seu processo comunicativo.»

A comunicação na Igreja para informar, partilhar, anunciar e para criar comunidade. É importante que a Igreja saiba comunicar. Ela apenas está a reagir a uma agenda que não impõe. A comunicação e a Igreja não criam relação. Para termos relevância temos de estar presentes no espaço público.  Deixou alguns passos a cumprir: boa preparação, brevidade e clareza; comunicar sem erros; ser cativante / próximo; usar de empatia; ser profissional.

Concluiu a intervenção salientando que «as redes sociais são o habitat natural dos nossos jovens e alunos. Há que substituir o on line pelo on life. »

 

Sessão III – A Comunicação-anúncio do Evangelho numa era mediatizada

O P. Rui Alberto, diretor editorial dos salesianos, fez uma comunicação sobre A Comunicação-anúncio do Evangelho numa era mediatizada. Para ele, «Evangelizar nesta era mediática é educar ao sentido crítico. A realidade nem sempre é o que parece, havendo poderes extra-estatais que podem controlar os media.

Na nossa era, a maioria dos interlocutores fica pelo senso comum que é transformar aquilo que não-familiar em familiar. Este processo passa pela objetivação, fazendo a seleção de factos, seguindo-se uma esquematização até alcançar a naturalização, recorrendo à personificação, à metaforização e à ontologização. Outra abordagem pode ser a ancoragem que é colocar o novo, a novidade, dentro de uma narrativa já existente.

Segundo o P. Rui Alberto «não há uniformidade» em como se fará a comunicação em Igreja. A Igreja como sociedade complexa pode fazer «uma comunicação diferenciada». Apontou três processos diferentes: a propagação (mensagem destinada ao interior do grupo), a difusão (mensagem destinada ao exterior do grupo e ignora os fatores distintivos dos diferentes grupos); e a propaganda (visão de combate in e out do grupo). Deixou as inquietações: «será que todas estas formas de comunicar podem coexistir na Igreja? Será que podemos ir buscar a todos grupos as suas técnicas e formas de comunicar?».

O peso da imagem e o papel da interação

É inevitável ignorar o peso da imagem real ou até metafórica. A palavra de Deus sempre foi visualizada: cor, pinturas, procissões, entre outras. Para o P. Rui Alberto a comunicação também tem de ser interativa, criar relação entre quem comunica e quem é o destinatário da mensagem.

Súmula elaborada por Sérgio Carvalho

 

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